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Conhecida como Pérola do Oriente, a cidade de Praga, capital da República Tcheca, tem a fama de seduzir pessoas de todos os matizes. "Praga não deixa a gente ir embora, esta velha tem garras" como já dizia o escritor Franz Kafka sobre a cidade onde nasceu e viveu a maior parte de seus 41 anos. Dá para entender seu comentário quando a conhecemos de perto. Cada bairro é um atrativo e cada rua é uma obra de arte. Nós faríamos apenas uma correção ao comentário do autor de A metamorfose: Praga pode ser uma cidade antiga, mas não é uma velha. Na verdade ela é jovem, sensual e sempre consegue seduzir aos que tem a sorte de conhecê-la.

   

Nossa visita à Praga foi alguns meses depois da maior enchente que a cidade sofreu nos últimos cem anos. E muito antes de chegarmos lá percebemos como esta enchente tinha afetado a vida da cidade. Foi por volta de 3 da madrugada que recebemos, ainda no Brasil, uma ligação de Praga, informando que o hotel onde tínhamos feito reserva havia sido inundado e que ficaria fechado por tempo indeterminado. Por isso nossa reserva fora transferida para outro hotel da rede, por sinal melhor. De início ficamos até receosos, pensando que visitar Praga após uma enchente poderia ser uma furada, e que toda cidade estaria sob as águas. Felizmente não foi assim e quando chegamos lá Praga já estava quase completamente recuperada, e excetuando-se a estação de trem e alguns trechos da cidade, não havia sinais visíveis da inundação.

E ainda bem que não desistimos, porque muito poucas cidades que visitamos se mostraram tão fascinantes quanto Praga. Franz Kafka estava certo, porque a vontade que tivemos foi de ficar lá para sempre. Na imagem acima vê-se a praça central da cidade antiga, com destaque para a Catedral de Nossa Senhora de Týn. Ao lado, as torres da mesma catedral, vistas por trás, e rua do centro histórico.

 

Por muitas décadas a Pérola do Oriente permaneceu um lugar pouco visitado, pois a Tcheco Eslováquia, como integrante do bloco comunista liderado pela União Soviética, não era um país muito receptivo ao turismo. Com o fim do comunismo tudo mudou e cada vez mais turistas de todos os cantos vem conhecer esta cidade histórica. Mesmo tendo organizado um roteiro preparado, com suas principais atrações listadas, logo que começamos a percorrer suas ruas fomos contagiados pelo ambiente à nossa volta e acabamos deixamos o roteiro de lado e simplesmente saímos a caminhar sem rumo, descobrindo ao acaso um encanto novo em cada ruela, em cada quarteirão. Ao lado, uma rua de pedestres próxima à torre de pólvora.

 

A torre ao lado - o Portão de Pólvora - é uma das construções mais famosas de Praga. Sua origem vem do século 11, mas a construção que se vê hoje teve início em 1475, por ordem do rei Vladislav II. Inaugurada como o nome de Torre Nova, foi posteriormente renomeada no século 17 como Torre de Pólvora, pois o local era utilizado com paiol. Uma escada de 186 degraus conduz os visitantes a uma plataforma 44 metros de altura, de onde se tem uma excelente vista da cidade.

Praga é cortada pelo rio Vltava, e em termos turísticos a cidade pode ser dividida em cinco partes. Josefov, Staré Mésto, Nové Mésto, Malá Strana e Prazský Hrad a Hradcany. Cada um destes bairros tem suas características próprias, e merecem ao menos um dia inteiro para serem percorridos com calma. Infelizmente, a maioria das excursões pelo leste europeu dedica somente um ou dois dias a esta cidade, uma completa injustiça, razão pela qual decidimos visitá-la por conta própria, para podermos conhecê-la com calma

 

As três principais regiões de Praga à direita do rio são Josefov (Bairro Judeu), Staré Mésto (cidade velha, onde está o centro) e Nové Mésto (cidade nova). Na margem esquerda estão Malá Strana (onde todas as construções são anteriores ao século 19) e Prazský Hrad a Hradcany (local do castelo de Praga, onde foi fundada a cidade). Todas os cinco bairros são próximos, pequenos, e devem ser percorridos preferencialmente a pé. Sugerimos que você comece sua visita a Praga por esta última região, cujo ponto central é a praça Starometské Námestí (praça da cidade velha), o coração de Staré Mésto e também o coração de Praga. 

Caminhar pela praça da cidade velha é mais ou menos como voltar cerca de 600 anos no tempo. Sua função na época medieval era servir como mercado da cidade e ao longo dos séculos seguintes diversos prédios foram construídos no seu entorno, em estilo romanesco, barroco e gótico. As principais construções no local são a Catedral de Nossa Senhora de Týn, a antiga prefeitura, o relógio astronômico e a igreja de São Nicolau. Este é o local certo para escolher entre os diversos restaurantes com mesas nas calçadas, sentar e simplesmente ficar algum tempo apreciando o ambiente em volta.

Depois pegue o bonde 17 para retornar ao centro e desça na praça Karlovo Námesti, onde começa o lado moderno de Praga. Caminhando em direção norte você chega na Rijna Prikopé, rua de pedestres onde estão situadas as maiores lojas de departamento da cidade. Entre os itens mais comprados estão as famosas porcelanas e cristais tchecos, em todas formas e cores. E se estiver procurando um super mercado para comprar alguns vinhos ou queijos passe no Tesco, também na rua de pedestres.

 

Na parte superior da imagem ao lado destaca-se o Castelo de Praga, visto do bairro Judeu. Ao chegar na praça Starometské Námestí percorra a rua Celetná, a mais antiga da cidade, rodeada de prédios históricos. No século 14 era por aqui que passavam os cortejos reais. Visite também o museu Narodni, construído em 1890. Lá estão exposições de arqueologia, mineralogia, antropologia e história natural, além de um panteão com bustos de figuras importantes de história Tcheca. Ao lado, uma imagem do Castelo de Praga, visto a partir do outro lado do rio.

 

Se você vir uma multidão de pessoas junto à lateral do prédio da antiga prefeitura, pode ter certeza que elas estão aguardando pelas badaladas do Radnice, o relógio medieval. A cada hora cheia uma imagem de Cristo, seguido por seus doze apóstolos fazem uma procissão, saindo de uma pequena portinhola situada na parte superior. Atrás seguem figuras humanas representando a Avareza, Vaidade, Morte e o Turco. O relógio data do século 15, sendo que logo abaixo foi instalado, em 1865, um relógio astronômico, com os símbolos do zodíaco.

Caminhando pela praça você vai encontrar ainda diversas bancas vendendo artesanato e doces deliciosos. Ou então escolha um dos inúmeros restaurantes, sente numa mesa ao ar livre e aprecie toda a beleza arquitetônica do lugar à sua volta, que tem mil anos.

 

Vista aérea da Karlúv Most, a ponte de pedestres que une os dois lados da cidade, construída durante o século 14. Durante muitos anos a única decoração da ponte foi um crucifixo, mas mais tarde as autoridades eclesiásticas decidiram orná-la também com figuras de santos católicos, o que resultou nas trinta estátuas hoje existentes, esculpidas entre 1600 e 1800. Na enchente que atingiu Praga ela precisou até ser interditada, pois corria risco de desabamento. Ainda bem que nada lhe aconteceu, pois a Ponte Carlos é um dos símbolos desta cidade. Ornada com as estátuas de diversos santos e guarnecida nas duas extremidades por torres seculares, nela você vai encontrar centenas de turistas e dezenas de artesãos vendendo gravuras, esculturas e muitos artigos típicos.

De volta à margem direita do rio Vltava visite agora o sul da cidade, onde está a fortaleza de Vysehrad. O nome lembra o castelo do conde Drácula, mas ele não tem nada de assustador. Pelo contrário, do alto das ruínas deste castelo construído no século 10 tem-se uma das melhores vistas da cidade e do Rio Vltava. Ele foi usado durante algum tempo pela corte como alternativa ao Castelo de Praga. Lá estão a pequena e graciosa Igreja de S. Roque, construída em 1682 e o cemitério de Olnany, onde foram enterradas as vítimas da peste que assolou a cidade em 1679. Veja também a sepultura do romancista Franz Kafka. Para chegar lá pegue a linha C do metrô e desça na estação Vysehrad.

O Mala Strana é uma região de ruas antigas, estreitas e curvas, repleta de casas barrocas e renascentistas, igrejas, palácios e lojas diversas o transformaram num dos lugares mais freqüentados por moradores e amados por turistas. Por aqui nada mudou desde o século 18. Dizem que esta região é a própria essência de Praga, e não foi ainda tão contaminada pela influência turística que a cada vez mais deixa marcas pela cidade. Está situado aos pés do castelo de Praga. No coração de Mala Strana situa-se a praça Malastranske Namesti, cercada de lojinhas e simpáticos restaurantes. Por duas vezes este bairro foi destruído, a primeira em 1419, devido à guerra com os Hussitas, e a segunda no grande incêndio de 1514.

O Bairro judeu - Josefov - é outra região que não pode faltar eu seu roteiro. De início uma cidade independente, sua origem vem desde a idade média, quando era habitado por duas comunidades, os judeus vindos do ocidente e aqueles originários do Império bizantino. Durante séculos foram perseguidos, sendo que já no século 16 eram obrigados a usar um círculo amarelo em suas roupas, para identificá-los. Foi o imperador José II, em 1784 que acabou com esta discriminação e incorporou o bairro judeu à cidade de Praga.

O bairro judeu atual (o antigo foi demolido) tem como atrações históricas seu cemitério (Starý Zidovský Hrbitov, fundado em 1478, com 12 mil lápides e sepulturas de até 12 camadas), Convento de Sta. Inês (Kláster Sv. Anezky, fundado em 1234 e onde hoje funciona a Galeria Nacional) e Sinagoga Staronová (construída em 1270, a mais antiga sinagoga da Europa).

Alguns destaques do Mala Strana são a rua Mostecká, rua Nerudova, Palácio Wallenstein, Casa e Igreja de S. Tomás (U. Sv. Tomáse), Igreja de S. Nicolau (Kostel Sv. Mikuláse), Praça de Malá Strana (Malostranské Namésti), e Jardim Ledebour (Ledeburská Zahrada). Mas não limite sua exploração aos lugares conhecidos e não hesite em fazer novos roteiros e suas próprias descobertas. Esta é uma região pequena, assim todos estes lugares estão relativamente próximos entre si.

Outra região muito bonita é o Parque Petrin, situado logo abaixo do Castelo de Praga. Com jardins arborizados, chalés e diversas trilhas, ele é a principal área verde da cidade. Entre seus destaques estão o Labirinto de Espelhos (Zrccadlové Bludisté), e a Torre de Observação (Rozhledna), ambos remanescentes da exposição de Praga de 1891. Quem tiver disposição pode subir os 299 degraus da torre, uma réplica da Tour Eiffel de Paris, e apreciar uma das mais belas vistas de "Praha", como a cidade é chamada por aqui.

 

Ao lado, imagem feita no portão de entrada do Castelo de Praga. A história da cidade começou aqui, no século 9, quando o príncipe Borivoj resolveu aproveitar o lugar, no alto de uma colina, para construir uma fortificação que dominasse a região e as embarcações que transitavam pelo rio Moldava. O Castelo de Praga é praticamente uma cidade, e no seu interior destaca-se a Catedral de São Vito. Nela, visite a cripta real e o túmulo de S. João Nepomuceno. Depois conheça também o Palácio Real (na verdade são três palácios superpostos, construídos em épocas diferentes, residência dos reis da Boêmia), Torre da Pólvora, Torre Dalibor, Convento de S. Jorge (exibição de obras de arte), Palácio Lobkowicz (acervo histórico do Museu Nacional) e Viela Dourada (rua do século 16). Também é aqui a sede do governo tcheco. Reserve no mínimo umas 4 horas para ver tudo. 

 

Ao lado, fotografia feita na cidade nova (Nové Mesto), em plena praça Václavske Námesti. Na verdade ela é mais uma avenida do que praça. Tem 750 metros de extensão e 60 m de largura com duas pistas de trânsito e um jardim no meio. Este é o coração da cidade e ao longo deste retângulo estão alguns do principais hotéis da cidade, elegantes lojas e vários restaurantes. Entre as construções de destaque estão o Hotel Europa (construção de 1903 em estilo Art Nouveau), Opera Estatal (Státní Opera, principal teatro lírico da cidade), Casa Eslava (Slovanský Dúm, famoso centro cultural) e Museu Nacional (Narodni Muzeum).

 

Quando chegar a hora do jantar saiba que carne de vaca e porco estão entre os pratos típicos tchecos, e geralmente são acompanhados com batatas ou arroz. O prato mais consumido é carne de porco com bolinhos e chucrute (Veprové knedliký a zelý). Outras opções freqüentes são Veprový Rizek (lombo de porco à milanesa com batatas e salada), Pecená Kachna (pato assado com toucinho e chucrute) e Svicková (carne assada com molho de legumes). De sobremesa experimente um Palacinky (crepe com sorvete) ou Jablkový (rocambole recheado com cerejas, maçã ou queijo). A cerveja Tcheca (Pivo) é boa, apesar de não ser muito forte. Alguns bons restaurantes e não muito caros são o U Zelené Zaby (rua U Radnice 8, mais antiga casa de vinhos da cidade), Valentin (rua Valentinská 9, ao estilo moderno), U Kalicha (rua Bojisti 14, ao estilo turístico, com vários pratos tradicionais e lojas de artigos típicos) e o Vltava (rua Tomásská 9), às margens do rio, com um pátio de frente para o castelo de Praga . 

 

Para quem vem de outras cidades européias, a forma mais prática e barata de chegar a Praga é de trem. Suas principais estações, Hlavni Nádrazi e Holesovice são bem centrais. De avião, a chegada é no aeroporto Ruzyné, a 15 km de distância e que oferece transporte até o centro com confortáveis ônibus da linha Letiste Praha, com saídas a cada 30 minutos. Ao lado, uma imagem noturna da praça central da cidade antiga e da Catedral de Nossa Senhora de Týn. O que poderíamos dizer mais sobre a impressão final que Praga nos deixou? Três coisas: Que ela é uma cidade cujos adjetivos são poucos para tentar descrever. Que tomamos a decisão certa em não desistir de nossa visita por causa daquela enchente. E que, sem dúvida, a Pérola do Oriente continua mais ofuscante do que nunca.

 

 


Bandeira da República Tcheca